Essa minha decisão foi tomada porque achei que tinha algum jeito para a coisa, que até era uma profissão interessante pois trabalhar com juventude tinha os seus aliciantes e, embora se ganhasse pouco no início da carreira, julgava saber que no final da mesma se ganhava razoavelmente. Sabia que a progressão era feita por antiguidade, tinha como garantido que aos 36 anos de serviço podia ir para a reforma, etc., etc.
Hoje, 18,5 anos passados, olho para a minha situação e vejo que alteraram todos esses pressupostos.
Mas eu assinei um contrato com o Estado sob determinadas condições, direitos e deveres, então e agora, já não me pagam o que estava acordado e não me reformo quando ...?
Eu não sou jurista, por isso responda quem sabe, é isto legal e constitucional?
Assim, o que nos resta? A revolta? A indignação? A revolução?
Negociação, motivação, empenho, dedicação, sucesso, são termos que deixaram de ter sentido nos tempos de hoje. O que os VOSSOS (pois eu recuso-me a ser representado por mentirosos e outras coisas piores…) governantes têm feito é roubar-nos tudo, os sonhos, as aspirações, a esperança, a democracia, a negociação, a felicidade, a harmonia e o País.
Suponho que não.
Então só temos que, fazendo o que o Sr. Professor Dr. Aníbal Cavaco Silva escreveu em 2005 (salvo erro), correr com os políticos que hoje ocupam as cadeiras do Poder, na Presidência da República, no Governo e no Parlamento, os quais, contrariamente ao que prometeram, por acção ou inacção e conivência, fizeram com que hoje todos estejamos pior do que estávamos ontem.
Para ver um filme de mentiras vá a http://www.youtube.com/watch?v=DcEciCZ5u4M
1 comentário:
A culpa é dos rios espanhóis, como a seguir vos vou demonstrar.
E a gota se fez rio...
Cansada de estar debaixo da terra, daquela terra rochosa, sufocada talvez pelo peso de tanto barroco, - que é coisa que ali abunda - decidiu-se a vir à superfície. Outras que a precediam, também elas decerto atagantadas pelo mesmo atafego, terão sentido a mesma necessidade vital de respirar e fizeram o mesmo. Libertaram-se e foram atrás dela. Primeiro de uma forma desgarrada, a medo, uma agora, outra a seguir. Depois em corgulhadas desconexas e descontínuas, para, finalmente, se unirem num rosário de gotas transparentes do qual, como que por encanto, um fio brotou. Um fio ténue, mas constante, cristalino, imaculado que, de imediato, começou a deslizar, encosta abaixo, timidamente, escondendo-se aqui e além, mas continuando, teimoso, o descenso tantas vezes apenas perceptível.
Não sei há quanto tempo esse jorro primeiro aconteceu. Quiçá o curso de água que aqui então se iniciou seja tão velho como o tempo porque o rio com o tempo se confunde na memória do seu povo. Talvez que o rio seja o próprio tempo.
Outros fios, mais ténues ainda, se lhe foram juntando, engrossando pouco a pouco a corrente que acabou por cavar o seu leito.
Também este, inicialmente só uma chancada, se foi alargando à medida que foi sorvendo outras águas.
E o fiozinho é riacho, ribeiro, ribeira, rio a correr, a correr, inexoravelmente, à semelhança dos dias, a terça sempre a seguir à segunda e antes da quarta, a água que agora passa a última das que passaram e a primeira das que hão-de vir, como há muitos anos tão sabiamente já concluíra o sábio Leonardo, para a Foz, que também é Côa e Vila Nova.
Ignoro o tempo que o rio demorou a chegar ao seu destino. Certamente muito, porque longo, longo é o seu curso.
O que sei é que as entranhas da Serra que o fizeram jorrar são magnanimamente fecundas, aqui nascendo também outros rios que, de início, por meras razões geográficas, mais precisamente de declive, obrigatoriamente obrigados a correr por terras de Espanha, cedo derivam, pelos mesmos motivos, para Portugal, onde vêm lançar as suas águas, que, como adiante veremos, quando entram em terras lusitanas, vêm deslavadas o quanto baste.
Refiro-me ao Águeda e ao Erjes os quais, de acordo com as leis naturais da gravidade, correm, naturalmente, para a foz. Foz, apenas e só desembocadura, logo sem maiúsculas, algures no Douro e no Tejo, dois ilustres rios espanhóis de nascimento, também eles, à semelhança de outros, em permanente demanda do mar português, mas parecendo fazer questão em deixar o húmus das suas águas nos terrenos agrícolas do país que lhes deu a origem, a julgar pelo nível de desenvolvimento da agricultura espanhola que, por oposição a outras, se deixa observar tão potentemente florescente. Olivais de ocuparem os pontos cardeais, laranjais a perder de vista, limoais e outros mais, como beterrabais, tudo bem ordenado , bem tratado, com infra-estruturas de rega de fornecerem bastante água e o bastante boa para que não pareçam bonitos só quando chove, como os nossos batatais, milheirais , feijoais, videiras com provas e rebentos braçais das árvores novas de outros tempos.
E aqueles que procuram e não encontram uma explicação para o atraso luso aqui a têm de mão beijada. Continuar a bater naquela tecla, de tão batida já gasta, que sistematicamente se inclina a imputar responsabilidades à classe política é chover no molhado e andar por pisos mais escorregadios do que pneus carecas em chuva recém – caída. Caramba, percamos a mania de culpar os políticos por tudo e por nada, coitados!
É verdade que na Assembleia lá se vai vendo um ou outro deputado dormido, ou talvez dormindo, não importa para o caso extrapolar sobre qual o particípio mais conveniente, se o passado se o presente, importando, sim, constatar o que é mais do que óbvio, que a Assembleia não oferece o mínimo de condições físicas para os deputados poderem fazer uma sesta retempera-dora, sendo uma dor de alma observar os seus estranhos cabeceios indumentariados de fato e gravata; é também verdade que para os filhos deste ou daquele senhor ministro se vão abrindo portas alternativas; e que a crise do desemprego não tem afectado todos por igual uma vez que presidentes há que vão inventando lugares nos quadros dos serviços a que presidem em prol da prole própria e, a reboque destes, outros são criados para evitar o escândalo de reclamações, justificadas mas inoportunas; e que em eleições autárquicas se tem praticado a troca directa de favores políticos por empregos e outras benesses; e que as sementes agrícolas, em vez de plantas, fizeram brotar resmas de jipes; e que o clientelismo e o nepotismo têm existido; e que a justiça tem sido uma lesma de duas caras. E que esta ou aquela estrada ou partes delas tenham curvado repentinamente para dentro de algum bolso esvaziado de escrúpulos também pode ser verdade atendendo a que, por mais que se afine a acuidade visual, ninguém as consegue enxergar nos sítios em que supostamente deviam integrar a paisagem.
É verdade isto e muito mais que aqui não é agora referenciado, mas que, argumentará a mesma classe política, não justifica só por si que os políticos sejam o bode expiatório de todos os males. Não é fácil governar um povo naturalmente avesso a ser governado, incapaz de interiorizar a existência de leis, renitente a acatar regras e, sobretudo quando se trata de cumprir obrigações e deveres, ignorante da existência do Estado, por sua vez, tantas vezes, ausente.
Em jeito de conclusão, e insistindo na ideia de que não vale a pena gastar ainda mais a mesma tecla já tão batida, penso ter conseguido identificar os culpados desta situação. Para quê procurar outros quando já sabemos que são os rios espanhóis? Aliás, não seria de todo lógico responsabilizar os portugueses, eles mesmos, pelo atraso do seu querido país!
Extraído de " O voo derradeiro" de Joaquim Rodrigues Dias, a editar brevemente.
Enviar um comentário