E ser amigo é saber dizer não!
Nós, os Pais, “enchemos a boca” sempre que falamos dos nossos Filhos e da importância que eles têm para nós. Mesmo aceitando que a esmagadora maioria dos Pais faz quase sempre o que pensa ser melhor para os seus Filhos, e reparem que eu disse “.. pensam ser melhor para os seus Filhos ..”, nos tempos que correm, pensamos ser pertinente perguntar, será que isso basta?
Será que nós, no nosso dia a dia, procuramos ser um exemplo para os nossos Filhos? Será que procuramos incutir-lhes os valores que fazem a diferença entre um bom e um medíocre cidadão?
Eu atrever-me-ia a dizer que os nossos Filhos correm o risco de serem vitimas de uma educação centrada e dominada pelos valores do bem-estar físico, porque nós estamos sempre disponíveis para dar dinheiro, telemóveis de última geração e outras bugigangas e “pagarmos” assim a falta de atenção e acompanhamento diário. A atenção, a partilha de experiências em família, foi substituída pelos bens materiais de consumo. É mais fácil dar um telemóvel de última geração ao Filho, ou comprar-lhe roupas de marca, do que acompanhá-lo diariamente e tentar corrigi-lo, educando-o. Os Pais demitem-se, assim da sua função de definir regras, impor limites, exercer a autoridade e acima de tudo dar o exemplo. Todos sabemos que é mais difícil dizer “não” do que “sim”, mas, se pensarmos um pouco, facilmente concluímos que ser amigo é saber dizer não.
Não é por acaso que o exemplo dos Pais é importante para a moldagem do comportamento dos filhos. As crianças têm esse terrível hábito de imitar nos gestos, na linguagem e nos comportamentos os modelos familiares. Por isso é que os psicólogos falam dos Filhos das famílias destruturadas, dos Filhos dos alcoólicos, dos Filhos dos toxicodependentes, como crianças de risco. Por isso é que, nas sociedades avançadas, a alguns Pais, lhes são retirados os filhos pelo Estado, exactamente para que não copiem os modelos familiares.
Segundo a opinião de alguns psicólogos, Filhos de Pais que ganham a vida sem fazer nada, ou de Pais que ganham a vida facilmente recorrendo a estratagemas, ou de Pais mal-educados têm grande probabilidade de lhe seguir as pisadas. E, se pensarmos um pouco, todos vemos que sempre assim foi, basta lembrarmo-nos do ditado popular, FILHO DE PEIXE SABE NADAR.
Nós, os Pais, não podemos sacudir a água do capote, pois, quer queiramos quer não a Educação é da nossa principal responsabilidade, e não nos devemos demitir dessa função nem permitir que outros nos substituam.
Quando no início da década de 90 os Professores chegavam a Pinhel, podiam não ter alunos fabulosos ao nível do aproveitamento escolar, que também os havia, mas todos eram unânimes em considerar os nossos alunos educados e respeitadores, hoje infelizmente, o panorama é desolador e nos últimos anos tem piorado assustadoramente. Para o comprovar basta ir, no período dos intervalos, às Escolas e vermos o respeito que eles têm para com os adultos, professores e funcionários, ir aos campos de futebol das Escolas e atentar na linguagem, ou então ao local onde apanham as autocarros e assistir de forma gratuita aos comportamentos mais violentos, na maioria das vezes perpetrados pelos “fedelhos” mais novos e para espanto de muitos, por miúdas.
Provavelmente muitos deles são assim porque as famílias assim os criaram, sem regras, sem educação, com uma linguagem alicerçada no vernáculo, alimentado pelos futebóis, novelas, big brothers, música pimba e outros que tais, e por isso estão-se marimbando para os Pais, os professores, os policias, etc.
Por outro lado, verificamos que os Pais dos alunos bem comportados, e na maioria das vezes com aproveitamento, são os que vão periodicamente à Escola, os outros, os Pais desses alunos menos bem comportados e, porque não dizê-lo, mais mal-educados, ou não vão à Escola ou só vão quando são chamados e quando, infelizmente, na maior parte das vezes, já é tarde demais. Será porque se envergonham dos filhos que têm? Ou então não vão porque não têm tempo para os Filhos e nesse caso deviam ter vergonha dos Pais que são.
Já alguém disse que: “As falhas/fraquezas do Filho são a prova dos erros/fracasso do Pai”.
Se nós não nos empenharmos todos e não concentrarmos esforços na educação dos nossos Filhos, não vale a pena enganarmo-nos, pois, mais tarde ou mais cedo vão ser vitimas da estratégia dos nossos governantes que utilizam esta politica educativa, nivelando tudo por baixo, assegurando assim que os Filhos do povo hão-de continuar …… “povo”, enquanto que os filhos deles e das elites que há séculos nos governam, frequentando bons colégios particulares, (onde o ensino é rigoroso), se preparam para continuarem a ocupar os melhores empregos e nos continuarem a governar pelo menos por mais um século?
Eu, por mim, não aceito passivamente este estado de coisas e por isso, como Pai, não concordo que os políticos tenham já decidido o futuro dos nossos Filhos. Eu recuso-me a aceitar isso e tento contrariá-los pois acredito que a acção dos Pais, dando carinho e também presentes, mas principalmente impondo e fazendo cumprir regras, acompanhando o crescimento físico e intelectual deles, dizendo-lhes NÃO no momento certo e apoiando-os nos momentos de maior fragilidade, e acima de tudo dando-lhes bons exemplos, é determinante para aquilo que eles vão ser no futuro.
P.S. – Pais e Filho(s) aparecem estrategicamente sempre escritos em letra grande.
Texto publicado no boletim da Associação de Pais e Encarregados de Educação de Pinhel